Azul (AZUL4): Por que foi a Pior Ação do Ibovespa em 2024?

A Azul (AZUL4) encerrou 2024 como a pior ação do Ibovespa, registrando uma desvalorização superior a 77% no ano. Este artigo analisa os fatores que contribuíram para esse resultado, explorando os dados financeiros da companhia, os desafios enfrentados pelo setor aéreo e o impacto de condições macroeconômicas adversas.

Em janeiro de 2024, as ações da Azul eram negociadas a R$ 22,50, enquanto em dezembro o preço caiu para R$ 5,10, resultando em uma perda acumulada de 77,3%. Esse declínio reflete uma combinação de fatores internos e externos que afetaram a performance da companhia ao longo do ano.

O Desempenho da Azul: Uma Visão Geral

O desempenho da Azul em 2024 foi marcado por um conjunto de desafios estruturais, macroeconômicos e operacionais. Para entender essa situação, é importante destacar:

1. Alavancagem Financeira Elevada

A Azul encerrou o 3T24 com uma dívida líquida de R$ 27,9 bilhões, equivalente a 4,8 vezes seu EBITDA ajustado dos últimos 12 meses. Esse nível de alavancagem foi significativamente maior do que a média do setor, que gira em torno de 2x a 3x.

A alavancagem elevada deixou a Azul vulnerável às condições macroeconômicas, como altas taxas de juros e flutuações cambiais, agravando sua situação financeira.

2. Impacto da Alta do Dólar

Com o dólar cotado em média a R$ 5,55 em 2024, os custos da Azul em moeda estrangeira aumentaram consideravelmente. Grande parte das despesas operacionais de uma companhia aérea, como leasing de aeronaves, combustível (QAV) e manutenção, é dolarizada. Por exemplo:

  • Combustível: O querosene de aviação (QAV) teve um custo médio de R$ 4,34 por litro, pressionando as margens da companhia.
  • Leasing: Os contratos de arrendamento de aeronaves foram reajustados pela taxa cambial, aumentando as obrigações financeiras em reais.

3. Juros Altos e Pressão no Fluxo de Caixa

Com a taxa Selic acima de 10% durante a maior parte do ano, as despesas financeiras da Azul ultrapassaram R$ 2,0 bilhões em 2024. Essa combinação de juros elevados e alavancagem alta criou uma situação desafiadora para a companhia, que precisou renegociar dívidas e buscar novas fontes de financiamento.

  • Por que os juros afetam tanto? Uma taxa de juros alta aumenta o custo do capital para as empresas endividadas. No caso da Azul, isso significou destinar uma parte significativa de sua receita para pagar encargos financeiros, reduzindo os recursos disponíveis para investimentos e operações.

Problemas Estruturais do Setor de Aviação

O setor aéreo é historicamente vulnerável a choques econômicos e eventos externos. Em 2024, a Azul enfrentou um cenário particularmente desafiador devido a:

1. Demanda Enfraquecida

Embora houvesse sinais de recuperação pós-pandemia, o aumento dos preços das passagens e a inflação reduziram o poder de compra dos consumidores. Isso resultou em:

  • Menor procura por viagens aéreas, especialmente em rotas de lazer e internacionais.
  • Queda na taxa de ocupação das aeronaves, pressionando a rentabilidade.

2. Eventos Climáticos Adversos

As enchentes no Rio Grande do Sul em meados de 2024 impactaram diretamente as operações da Azul, causando prejuízos estimados em R$ 400 milhões. Esses eventos levaram ao cancelamento de voos e à redução da capacidade operacional.

3. Concorrência Intensa

Com diversas companhias disputando fatias de mercado, a Azul enfrentou dificuldades em repassar o aumento dos custos aos consumidores, o que comprometeu suas margens.

Medidas Tomadas pela Azul

Diante desse cenário, a Azul adotou uma série de medidas para tentar reverter sua situação:

1. Renegociação de Dívidas

A empresa conseguiu reduzir sua alavancagem de 4,8x para 3,4x ao renegociar contratos de leasing e emitir notas superprioritárias. Essa estratégia gerou uma melhoria significativa no fluxo de caixa.

2. Redução de Custos

A Azul implementou iniciativas como:

  • Transformar sua frota para aeronaves mais eficientes e com menor custo operacional.
  • Cortar despesas administrativas e otimizar processos operacionais.

3. Apoio Governamental

A empresa contou com financiamentos do governo e apoio de credores para sustentar suas operações durante os períodos mais críticos de 2024.

O Que Esperar do Futuro da Azul?

Apesar dos desafios, a Azul projeta uma recuperação gradativa em 2025, com EBITDA estimado em R$ 7,4 bilhões. Para atingir esse objetivo, a companhia planeja:

1. Expansão de Rotas Rentáveis

Focar em mercados com maior demanda e margens operacionais positivas.

2. Estabilização Macroeconômica

A expectativa de redução na taxa Selic e maior previsibilidade cambial pode aliviar a pressão sobre os custos financeiros e operacionais.

3. Aumento da Eficiência Operacional

Melhorar a utilização das aeronaves e investir em tecnologia para reduzir custos e aumentar a produtividade.

Preços-Alvo das Ações da Azul por Casas de Análise

Diversas instituições financeiras emitiram suas projeções para as ações da Azul (AZUL4):

  • BTG Pactual: Recomenda compra com preço-alvo de R$ 17,00, implicando um potencial de valorização de aproximadamente 227% em relação ao preço atual.
  • Goldman Sachs: Mantém recomendação de compra com preço-alvo de R$ 12,20, sugerindo um potencial de alta de cerca de 57%.
  • XP Investimentos: Adota uma postura neutra, com preço-alvo de R$ 6,60, indicando um potencial de valorização de aproximadamente 18%.

Essas projeções refletem a aposta dos analistas na capacidade de recuperação da companhia, apesar dos desafios enfrentados em 2024.